Já pensou em fazer o uso de bebidas "interativas" que mudam de cor? Ou ainda consumir um produto cuja embalagem nos indicaria quando efetivamente o alimento não estaria mais adequado ao consumo? Esses são produtos da nanotecnologia, a grande promessa do século XXI.
Nanotecnologia é a pesquisa e produção em escala nano (ou escala atômica) que vai de 1 a 100 nm. Nessa escala, a propriedade dos materiais varia muito quando comparados aos convencionais.
A nanotecnologia começou a ser divulgada na década de 80. Apesar de ainda estar em fase inicial de desenvolvimento, estudos realizados até então indicam ser uma área promissora de pesquisa e desenvolvimento.
Nanotecnologia em alimentos
A nanotecnologia apresenta grande potencial na área de alimentos. Algumas de suas utilizações são: purificação da água; liberação lenta de nutracêuticos; microencapsulação de aditivos; desodorização; como antimicrobiano e antifúngico; embalagens mecanicamente mais fortes e termicamente melhores; embalagens que indiquem ao consumidor que o produto não está mais em condições de consumo. (Chau et al. / Trends in Food Science & Technology 18 (2007) 269e280)
Nanotecnologia em alimentos x nanotecnologia na cosmética
Apesar de ser uma tecnologia ainda muito recente e pouco estudada, a nanotecnologia já faz sucesso na área da cosmética. Produtos com nanoesferas já não são novidades, e ganham cada vez mais destaque no mercado.
Graças aos seus efeitos mais satisfatórios, nesse ramo, a nanotecnologia se mostra como um chamariz, sendo destacada nas embalagens, nos comerciais, e em alguns casos, fazendo parte do nome do produto: Nanopeeling, Nanoserum e Nanolip, da linha VitACTIVE.
Segundo estudos feitos até agora, o uso de nanotecnologia na área de alimentos traria muitos benefícios. E talvez já o faça. No entanto, as indústrias não assumem o uso dessa tecnologia, apesar de informações externas afirmarem que "nanoalimentos" já fazem parte do nosso cardápio.
Daí surge o questionamento: por que as indústrias do ramo de alimentos não confirmam o uso de nanotecnologia, se no ramo da cosmética ela funciona até como atrativo para o consumidor?
Tentando responder essa perguntas, podemos discutir a questão da segurança. Ainda faltam muitos estudos até que se chegue à conclusão do quão segura é a utilização de nanotecnologia em alimentos. Nanopartículas, ao caírem na corrente sanguínea, podem alcançar órgãos como cérebro, gerando efeitos indesejados. Além disso, a nanotecnologia aumenta a absorção e diminui a eliminação dos produtos pelo intestino, o que aumenta a biodisponibilidade destes no organismo. Mas, se a aplicação tópica também pode causar toxicidade, então porque a indústria cosmética não teve o mesmo cuidado antes de "popularizar" a nanotecnologia?
Outra questão que pode explicar o fato da não divulgação da nanotecnologia em alimentos é a aceitação do público. Os consumidores, que já não tem informações suficientes sobre nanotecnologia (M. Siegrist et al. / Appetite 51 (2008) 283–290), podem ficar muito receosos quanto a sua segurança diante dessas mudanças, e com isso as indústrias perderiam clientes.
Só o avanço nas pesquisas científicas vai responder se a nanotecnologia nos alimentos vai conseguir chegar - abertamente - às prateleiras. Por enquanto, o assunto começa a aparecer na mídia, e a ser discutido pela sociedade. Já podemos dizer que a discussão vai ser longa, porque quando o assunto é comida, a resistência é grande.
Postado por: Beatriz Costa
Glauce Barbosa
Apresentação
Gerar, disseminar e debater informações sobre NANOTECNOLOGIA DE ALIMENTOS, sob enfoque de Saúde Pública, é o objetivo principal deste Blog produzido no Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde - LabConsS da FF/UFRJ, com participação de alunos da disciplina “Química Bromatológica” e com apoio e monitoramento técnico dos bolsistas e egressos do Grupo PET-Programa de Educação Tutorial da SESu/MEC.
Recomenda-se que as postagens sejam lidas junto com os comentários a elas anexados, pois algumas são produzidas por estudantes em circunstâncias de treinamento e capacitação para atuação em Assuntos Regulatórios, enquanto outras envolvem poderosas influências de marketing, com alegações raramente comprovadas pela Ciencia. Esses equívocos, imprecisões e desvios ficam evidenciados nos comentários em anexo.
Recomenda-se que as postagens sejam lidas junto com os comentários a elas anexados, pois algumas são produzidas por estudantes em circunstâncias de treinamento e capacitação para atuação em Assuntos Regulatórios, enquanto outras envolvem poderosas influências de marketing, com alegações raramente comprovadas pela Ciencia. Esses equívocos, imprecisões e desvios ficam evidenciados nos comentários em anexo.
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19 comentários:
O uso da nanotecnologia na indústria de alimentos é muito interessante, principalmente no que diz respeito à validade dos alimentos. Assim, não haveria mais dúvidas dos consumidores leigos quanto à qualidade do produto. Gostaria de saber se já existe algum tipo de legislação quanto ao uso desta tecnologia em alimentos.
Karina Massad
Bebidas que mudam de cor com o uso da nanotecnologia? Isso pode ser uma das solucoes para o problema da ingestao excessiva de corantes. Se a nanotecnologia pode ser utilizada para dar cor aos alimentos, entao o uso de corantes pode ser banido das industrias e diminuir os riscos. Ate o ponto em que as substancias utilizadas comecarem a ser colocadas em excesso e comecarem a fazer mal para os consumidores.
Rodrigo Bastos
A postagem para mim foi esclarecedora. Não tinha muito conhecimento sobre essa tecnologia. Talvez o uso em cosméticos já esteja mais difundido por ser uma área superficial sem grandes infiltrações no organismo, o que o torna mais seguro.
Realmente a questão da aceitação de alimentos com nanopartículas pelos consumidores é bastante complicada, porém acredito que se forem dadas informações suficientes a rejeição não será duradoura. Como no caso dos trangênicos que são bem polêmicos ate hoje. O melhor a ser feito é introduzi-los aos poucos no mercado, como já vem sendo feito em uma marca de sorvete, óleos etc.para que o consumidor se acostumem com a idéia.
O uso de nanotecnologia me parece que precisa de maturação e maiores estudos sobre o assunto para que traga realmente benefícios quando utilizados no ramo alimentício, entretanto acredito que na sua fase madura terá um impacto significativo na maioria de industrias e áreas da sociedade.
Não há ainda uma regulação específica para nanotecnologia. Nos EUA, o FDA criou a 'FDA Task Force' que estimula a pesquisa em nanotecnologia, encorajando o lançamento de novos e seguros produtos. Na Europa existe um sistema, o REACH (Registration, Evaluation and Authorization Chemicals regulation), que determina que todas substâncias novas só podem entrar no mercado quando se mostrarem realmente seguras. Desta forma, produtos com nanotecnologia devem ser testados para verificar sua segurança, mesmo que a substância em questão já seja utilizada na escala macro.
As perspectivas de utilização desse tipo de tecnologia são muitas. Em relação aos alimentos, o desenvolvimento da nanotecnologia promete trazer um grande avanço na fabricação e conservação, por exemplo, tomar aquele sorvete de casquinha maravilhoso no verão carioca sem que ele fique derretendo pelas suas mãos, ou melhor ainda, que ele continue super saboroso, mas com menos calorias. Esses exemplos e muito mais coisas surpreendentes é o que se espera com a nanotecnologia... "O céu é o Limite". Mas será que ela é tudo isso de bom? Só teremos benefícios com o seu advento? Quais a perspectiva negativa que pode ter esse desenvolvimento?
O que me chamou mais a atenção foi a possibilidade da embalagem mostrar quando o produto está inadequado para consumo. Pois a data de validade é algo estimado, muitas vezes o produto passa da validade mas ainda está bom para consumo. Essa nova tecnologia evitaria um desperdício de alimentos. Muito interessante, as inovações que estão por vir só mexendo com o tamanho das partículas!!
Samantha,
Realmente ainda é uma incógnita os benefícios e os prejuízos que a nanotecnologia pode nos trazer, principalmente com relação à área de alimentos.
Particularmente, eu também ainda tenho muitas dúvidas e incertezas sobre a qualidade e segurança dos "nanoalimentos" que estão sendo desenvolvidos. Certamente, eles terão que passar por muitos testes que comprovem sua eficácia para serem bem aceitos pela população. Além disso,há a necessidade de uma fiscalização rigorosa sobre estes produtos para que o consumidor seja informado da presença de nanopartículas no alimento que irá ingerir. Caso contrário, a nanotecnologia ficará restrita apenas ao desenvolvimento de máquinas, equipamentos e produtos para as áreas tecnológica e cosmética.
Acabei de ler o comentário do Rodrigo e realmente se pudesse ser substituído o uso do corante ou pelo menos associado diminuindo a quantidade dos dois seria uma ótima saída. Porém se corantes que já é um artifício utilizado há muito tempo pelas indústrias de alimentos ainda tem a regulamentação necessária imagina a nanotecnologia que é um assunto super novo, com poucos estudos... Acho que ainda temos um caminho muito grande pela frente não só pela aceitação, como também pela regulamentação. E com isso quem sai perdendo somos sempre nós consumidores.
Fernanda Valle
Se as indústrias já fazem uso dessa tecnologia, não deveria haver já uma regulação específica, alguma legislação definindo as normas para que o produto fosse introduzido no mercado? Se estes alimentos já estão presentes em nossa alimentação, na minha opinião, da mesma forma que se deve identificar que o produto consumido é transgênico, deveria ser obrigatório também que a embalagem do produto contivesse a informação de que se está fazendo uso dessa tecnologia. Talvez, por ausência dessas informações (que deveriam estar presentes no rótulo, por exemplo)o consumidor se sinta tão inseguro no que diz respeito a ingestão destes produtos.
Não, Rodrigo. A Nanotecnologia não irá dar cor a partir do nada. Ela apenas irá liberar os aditivos microencapsulados. A nanotecnologia seria usada para o consumidor selecionar a cor, com o alimento podendo então ser de qualquer cor. Ou seja, o alimento teria 5 vezes mais corantes, de cinco cores diferentes e você escolheria qual cor você quer que seja liberada no produto antes de ingeri-lo (as outras 4 seriam liberadas, após a ingestão, já dentro de você).
Karina e Cristine...
Apesar da nanotecnologia estar presente em nossa vida cotidiana, ainda não há estudos completamente esclarecedores sobre seus efeitos negativos. Infelizmente, pouco ainda se sabe sobre os problemas que poderá acarretar para a saúde e para o ambiente. Por isso, ainda não há uma legislação específica no Brasil regulamentando o uso desses produtos pelo consumidor. O que não é correto, uma vez que nanoprodutos já se encontram disponíveis no mercado. Por enquanto, o que existe no Brasil é apenas o Plano Nacional de Nanotecnologia que investe em estudos e pesquisas nesta área a fim de se esclarecer melhor os riscos e benefícios destes produtos.
A Food and Drug Administration também ainda não estabeleceu políticas de segurança com relação às nanopartículas presentes em produtos já disponíveis no mercado. Pesquisadores têm começado a levantar dúvidas sobre o impacto dos novos nanomateriais na saúde do ser humano e no meio ambiente, pois uma vez as nanopartículas no corpo humano, no solo ou na água, elas fugiriam ao nosso controle.
Assim, é preciso que haja um acompanhamento constante dos resultados e a preocupação em avaliar os impactos negativos que possam ocorrer com o uso dessa tecnologia. E, principalmente, elaborar o quanto antes uma legislação que regulamente a fabricação e o consumo de nanoprodutos, a fim de orientar e informar aos consumidores sobre os riscos e benefícios destes produtos.
Novamente, algo que para mim é desafiador, tanto quanto o desenvolvimento de nanopartículas é a criação de metodologias de detecção (ou metodologias analíticas). Por mais que possa parecer algo anacrônico, não penso desta forma porquê, se uma vez pensamos em desenvolver materiais que permitam formar nanopartículas, temos que pensar como detectar essas nanopartículas e mais, se elas obedecem a parâmetros aceitáveis. Isso já é percebido em linhas de pesquisa de fármacos, com o desenvolvimento de nanopartículas de quitosana que veiculam radiofármacos (utilizam o Ho-166 como isótopo). Para alimentos, não deve ser diferente.
Bem que se diga, que eu me esqueci: eu sou o Diego que faz os comentários nos trabalhos anteriores (mundo nano e nanoaditivos em Shampoo). Só para deixar registrado aqui.
Eu vi um artigo da Scietific American Brasil que tratava de algo relacionado ao que o Diego disse: sobre a segurança de nanopartículas em alimentos (http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/nanoparticulas_na_comida_representam_um_risco_a_saude__imprimir.html)
Já se tem nanopartículas sendo aplicadas para tudo ou quase tudo. Mas pouca gente tem se dedicado a ver os potenciais riscos que essa tecnologia pode nos causar. Tudo é um balanço, eu acredito. E na Ciência e Tecnologia, principalmente quando aplicada a alimentação, torna-se algo que deve ser considerado. Se lerem este trabalho, verão que a FDA não exige de forma específica, provas de que nanopartículas sejam seguras. É um assunto que poderia ter como interface o blog de inocuidade alimentar ou mesmo segurança alimentar (no frigir dos ovos, bem bromatologicamente falando, é a mesma coisa). Sinceramente, tenho a mesma opinião que o Diego nisso aí: acho que devem ser feitos ensaios (elaborados, imaginados, sei lá) para que saibamos os níveis de segurança de ingerirmos nanopartículas (quem sabe se elas não representam um patógeno ao nosso organismo, tal qual partículas alimentares são para quem é alérgico à frutos do mar, não sabemos) que nos permitam quantificar (e não só ficarmos no nível qualitativo da coisa) quantas nanopartículas estamos ingerindo e se de fato é prejudicial (e se for, a extensão do prejuízo) ao nosso organismo.
Esse assunto de nanotecnologia é muito interessante tanto na área de cosméticos, quanto na área de alimentos. É um ramo que vem crescendo bastante. Vários artigos sobre microencapsulação já foram publicados.
A microencapsulação é bastante útil, tendo em vista que com ela podemos microencapsular polpas de frutas que em condições normais apresentaria algo que diminuiria o consumo, como por exemplo um gosto desagradável ou um odor nem um pouco atraente.
Essa seria uma das vantagens de desevolver uma bebida partindo de uma polpa microencapsulada, que é o mascaramento do sabor e aroma.
Esse tema é bastante interessante na área de pesquisa científica.
Extremamente interessante esse tema. Pode trazer muitas novidades ao "mundo dos alimentos". Porém, a área de nanotecnologia em alimentos ainda requer muitos estudos e pesquisas. Em 25 de março de 2014, a ANVISA publicou o primeiro “Diagnóstico Institucional de Nanotecnologia da ANVISA”, indicando os temas sujeitos à atuação regulatória. Esse documento trouxe informativo sobre os produtos que estão registrados na ANVISA e que fazem menção ao uso de nanotecnologias: estimou-se que em 2014, existissem 599 produtos cosméticos, 10 medicamentos, 7 produtos para saúde e 1 produto alimentício. Desse modo, é possível observar que essa área ainda gera muito receio por parte das indústrias da não aceitação desse tipo de tecnologia aos alimentos pelos consumidores.
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